“Entender o comportamento do consumidor é fundamental para um planejamento estratégico”, diz Felipe Morais

Em continuidade a série de entrevista “3 perguntar para” questionamos ao autor do (bom) livro Planejamento Estratégico Digital, Felipe Morais, os desafios em tempos de comunicação integrada e baseada em redes sociais e as diferenças entre o planejamento offline e online.  Confira o bate-papo por e-mail com o especialista:

Felipe Morais | Divulgação

Yuri Almeida- Existe (m) diferença (s) ao elaborar um planejamento estratégico para um marca/empresa “offline” e “online”? Qual (is) essa (s) diferença (s)?

Felipe Morais – Sim. Mesmo que tudo seja comunicação, é importante salientar que as respostas são diferentes. Vender um carro pela TV é diferente de vender pela web, pois no digital é possível um nível de interação muito maior, por outro lado, um comercial na TV vai provocar que o usuário vá para a web conhecer mais sobre o produto.

Essa é a diferença, pois a metodologia de planejamento acaba sendo a mesma, onde, basicamente o planner deve ligar o consumidor com as marcas, entendendo o objetivo da marca, quem é esse consumidor – entender a fundo – pesquisar o cenário e mercado em que a marca está inserida e traçar a estratégia, para isso independe se é on ou off.

Y.A – Quais elementos são imprescindíveis em um planejamento estratégico?

FM- Entender o comportamento do consumidor. Saber quem é, o que faz, como faz, porque compra, onde compra, quem influencia e como interage com o produto. Isso é essencial. O Planner também deve ser um eterno curioso! Pesquisar tudo a todo o momento. Entender e analisar tudo. Se colocar no lugar do consumidor e entender como comprar. Planners devem ir para a rua conhecer a fundo seu público.

Y.A – Aqui na Bahia, a maior parte das “grandes” agências de publicidade não contam com núcleo digital – geralmente terceirizam o serviço para agências “menores” especializadas. Tal cenário pode prejudicar a elaboração e/ou execução do planejamento estratégico?

FM – Depende da integração. Recentemente vivi essa experiência e sinceramente não foi nada positiva pelo alto ego da agência offline. Se as duas agências se focarem no resultado para o cliente e esquecerem o ego, as chances de dar certo são maiores. Já vi casos assim. Tudo depende da integração entre as agências e do pulso firme do cliente.

A Tarde: Gerente de Internet explica mudanças no jornal

O lançamento do novo site do A Tarde rendeu um bom debate neste blog e ramificou-se pelo twitter. O Fernando Severino, Gerente de Internet do Grupo A TARDE apareceu por aqui e comentou as mudanças no jornal. Aproveitei e conversei (por e-mail) com o Fernando Severino sobre alguns detalhes do projeto e as perspectivas de A Tarde. Acompanhe abaixo:

Por que o A Tarde resolveu mudar sua home?

Na verdade a mudança não foi só na home, foi no site inteiro. Pesquisamos constantemente as tendências mundiais em termos de jornalismo digital e acumulamos ao longo de um período uma série de features e inovações que vão surgindo, assim como monitoramos o comportamento do consumidor digital de informações e principalmente analisamos a evolução desse comportamento. Chega um momento em que olhamos para o site atual (o antigo) e percebemos que ele já não reflete de forma plena os anseios dos internautas, esse é o sinal para a mudança. Foi por esta razão que fizemos a mudança.

Quais os principais obstáculos enfrentados para o lançamento do novo site?

Chamaria mais de desafios do que obstáculos, porque desde o início toda a empresa sabia da importância dessa mudança, e deu todas as condições necessária para que fizéssemos um trabalho bem planejado e integrado. O principal desafio foi sem dúvida a adequação da estrutura de RH para cumprir com nova proposta editorial. Foi necessário contratar, treinar e deslocar profissionais, modificar o fluxo de trabalho, envolver e integrar os demais veículos, criar do zero uma equipe de produção audiovisual, reestruturar os fluxos de produção, redefinir os papéis dos editores, enfim foi uma grande mudança.

Quanto foi gasto no projeto e quais ações foram desenvolvidas para capacitar a redação? Houverão novas contratações? Qual o perfil dos profissionais que estão trabalhando no Atol (A Tarde On Line)?

O projeto inteiro custou cerca de R$50.000,00, entre desenvolvimento, layout e adequação tecnológica, tivemos ainda uma outra soma semelhante para a criação da WebTV, que tratamos internamente como um projeto a parte, porém integrado. Quanto as novas contratações, estamos numa fase de acompanhamento da transição, em breve saberemos se existe a necessidade de mais profissionais. Quanto ao perfil, estou entendendo que se refira aos jornalistas, o perfil destes profissionais deve ser altamente flexível e adaptável as novas propostas tecnológicas e editorias, ser multimídia e saber aproveitar ao máximo as funcionalidades da web 2.0 para produzir um material editorial mais rico, compatível com as possibilidades da web.

Áudios, vídeos, infografias, fotos, coberturas temáticas foram inseridas no site, mas de formas isoladas. A Tarde pensa em criar narrativas multimidiáticas, que englobe os diversos formatos na construção da notícia?

Claro, esta é a idéia da plataforma desenvolvida( CMS ). Como escrevi anteriormente, estamos num momento de transição. Já existem algumas iniciativas nesse sentido, e com tempo estaremos produzindo com mais riqueza. É importante reconhecer no entanto que a produção multimídia exige um esforço muito grande de produção e leva tempo, o que muitas vezes é incompatível com o tempo de resposta de um periódico, neles a notícia se desgasta muito rápido, não permitindo muitas vezes uma produção mais elaborada por comprometer o tempo da notícia. Este tipo de produção se torna mais viável para as revistas ou sites que exploram o “soft news”.

Algumas experiências colaborativas já foram desenvolvidas por A Tarde buscando aproximar/permitir que os usuários construam/colaborem na produção de conteúdo, mas sem muito êxito. Que estratégias serão adotadas para potencializar a colaboração dos leitores de A Tarde?

Não diria que tivemos pouco êxito. Costumo destacar que o nosso internauta ainda não é 2.0 e sim uma espécie de 1.5. Tivemos esta certeza quando fizemos o teste de usabilidade deste site com diversos grupos focais de perfis completamente diferentes. Nossa proposta inicial foi muito mais radical em termos de colaboração, só que percebemos que uma número muito pequeno de pessoas utilizavam os recurso, quiça sabiam o que eram ou para que serviam. Esta maturidade de navegação ainda não chegou ao Brasil, por mais que tenhamos grandes número de participação no Orkut, fica só nisso mesmo. Um universo muito pequeno de internautas utilizava para valer os conceitos de colaboração nos nossos testes, a grande maioria nos disse que esperava de um portal de notícias muitas chamadas na home para que elas podussem saber de forma absolutamente generalizada o que está acontecendo, adotando um fluxo de navegação do tipo home-notícia-home-notícia-home-tchau. Isso foi um verdadeiro banho de água fria na nossa equipe de desenvolvimento de produtos web, percebemos que estávamos fazendo um portal baseado nas nossas experiências de navegação na web e não estávamos considerando os “later adopters” que são a grande maioria da curva dos consumidores. Foi um grande aprendizado. Vamos, portanto, evoluir o portal na mesma velocidade dos nossos internautas, provocando sistemática e periodicamente a colaboração e analisando as respostas obtidas, para sabermos se podemos ou não avançar para a próxima fase.

Na Europa, alguns jornais criaram mecanismo de diálogo/monitoramento da blogosfera local. O Público (Portugal) criou uma lista dos trackback dos blogs que comentaram as notícias do jornal. O La Vanguardia criou um sistema parecido.  A Tarde irá desenvolver alguma relação com a blogosfera baiana/nacional?

Estamos engatinhando no conceito de blogs ainda, neste momento estamos apenas mapeando os blogs que nos interessam tematicamente para incluirmos no portal.

Por falar em blogs, eles parecem mais colunas, sem falar que todos os blogs do A Tarde possuem o mesmo layout, sem atualização, links para outros blogs (apenas dos jornais)…Haverão mudanças?

Logo, logo, é a pauta mais imediata. Tivemos que optar por lançar ou trabalhar mais. Preferimos adotar a estratégia Google de lançar e ir melhorando aos poucos.

Em relação aos microblogs, que é o grande boom, o A Tarde pensa em utilizar tais ferramentas na veiculação/produção de conteúdo?

Estamos atentos a isso. Já queríamos ter utilizado nas sabatinas com os candidatos a prefeito( que está sendo um grande sucesso, diga-se de passagem ) mas o regulamento não previa isso, então tivemos que postergar um pouco.

Quais as próximas inovações de A Tarde?

Lançaremos em breve a nova versão do classificados on line, que comercialmente é um projeto estratégico para a empresa, em paralelo estamos reformulando os canais de pós-graduação, cinema e turismo, além de algumas iniciativas sazonais com o canal Verão.

Dicas de entrevista: interface multi-toque e gêneros jornalísticos

Apesar da semana bastante corrida li entre uma viagem de ônibus e outra, duas entrevistas excelentes e deixo aqui a dica para os interessados.

Lia Seixas entrevistou José Marques de Melo sobre “gêneros jornalísticos” campo da comunicação e do jornalismo. A entrevista fora divida em duas partes. A próxima estará no “ar” na terça-feira blog Gêneros Jornalísticos.

André Deak entrevistou Marília Bergamo acerca do seu projeto de interface interativa hipermídia: uma mesa touchscreen, como aquela da Microsoft.

Rosental Alves comenta ciberjornalismo

Uma entrevista com Rosental Alves, professor e especialista em ciberjornalismo na Universidade do Texas discute alguns cenários futuros para o jornalismo na internet.

Apesar de perguntas “simples” é interessante ouvir Alves defender uma espécie de auto-canibalização dos media tendo em vista a própria qualidade do jornalismo, que tem como função informar e não colocar tinta em papel, segundo ele.

Via Discursos do Outro Mundo, do prof. Paulo Frias.

Andre Lemos fala sobre Cibercidades

O que é cidade virtual? Qual a relação das novas tecnologias/internet com o espaço urbano?

Mídias de função pós-massivas? As respostas para estas e outras perguntas estão nesta entrevista com o prof. André Lemos, realizada pela TV UFBA

Dica do Fernando Firmino no Jornalismo Móvel 

Entrevista com Pollyana Ferrari

O amigo André Deak realizou uma excelente entrevista com a Pollyana Ferrari, autora do livro Jornalismo Digital (2004), professora da PUC-SP e pesquisadora em hipermídia.

Destaco o questionamento relacionado ao jornalismo open-source e deixo a dica para a entrevista na íntegra.

Pergunta: Conteúdo produzido pelo cidadão: onde começa e onde termina o jornalismo? Como o jornalismo pode se apropriar das facilidades de produção de conteúdo?

Resp: Gosto muito de citar um termo da Ana Brambilla, “cidadão repórter”, onde ela comenta que é superimportante que o cidadão repórter tenha sua atividade profissional, até mesmo para ter propriedade para abordar um assunto de seu pleno domínio em uma reportagem. É aquela história de médicos escrevendo sobre um novo tratamento para o câncer, professores falando de educação, arquitetos comentando questões de urbanismo… além, é claro, de todos transformando seu cotidiano em notícia. Não vejo problema nisso, mas o papel do Jornalista, o editor da notícia, continua o mesmo e vai continuar. Não vejo esta ameaça, que apavora centenas de colegas.

Entrevista exclusiva e imaginária com Pierre Joseph Proudhon

 

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Pierre Joseph Proudhon. Ao ler a sua obra, fiquei com a impressão de que o objetivo principal fora encontrar um princípio de harmonia que resultasse a “paz imperturbável” e que a palavra-chave do seu pensamento é a “reconciliação”.

 

 

Yuri Almeida – Vamos iniciar por seu livro “A propriedade é um roubo”. Por que a propriedade é um roubo?

Proudhon – Assim como o “valor-de-uso”, o valor de troca são quantidades incomensuráveis, logo o seu fruto é instável, visto que ambos valores estariam em constante oposição. A solução é: os produtores devem combinar o preço (o preço de custo) e, por conseguinte, pelo que eles valem. É verdade que existirão menos ricos, mas, certamente, também passará a existir menos indigência. Como a negação da propriedade levava à negação da autoridade, eu deduzia imediatamente de minha definição este corolário não menos paradoxal: a verdadeira forma de governo é a anarquia”.(PROUDHON, 1997, pg. 18)

 

Y.A – Proudhon gostaria que você explicasse o seu conceito de propriedade.

 

Proudhon – La propriété c’est le vol. Os governos e as instituições resultam dela. A propriedade, considerada no conjunto das instituições sociais, tem por assim dizer duas contas abertas: uma é a dos bons que ele obtém, e que decorrem diretamente de sua essência; a outra é a dos inconvenientes que ela produz, dos gastos que ela ocasiona e que se seguem, como os bens, também diretamente de sua natureza. O mesmo acontece com a concorrência, o monopólio, o Estado etc.” (PROUDHON, 1997, pg. 36).

Para que as condições fossem iguais, nesta hipótese da separação do trabalho e do capital, seria preciso que, como o capitalista se desenvolve através de seu capital, sem trabalhar, também o trabalhador pudesse se desenvolver através de seu trabalho, sem capital. Ora, não é o que acontece. Portanto, a igualdade, a liberdade, a fraternidade são impossíveis no regime atual; portanto a miséria e o proletarizado são a conseqüência fatal da presente organização da propriedade”. (PROUDHON, 1997, pg.70).

Ao considerar a propriedade um roubo, busco “colocar em relevo a fragilidade das instituições. Acredito que é preciso um equilíbrio no que tange a propriedade, já que “na propriedade, como em todos os elementos econômicos, o mal ou o abuso é inseparável do bem. (PROUDHON, 1997, pg. 36). Por isso, “é preciso manter as escrituras em dia, isto é, determinar com exatidão os direitos e deveres, de maneira a poder, em cada momento, constatar a ordem ou a desordem e apresentar o balanço” (PROUDHON, 1997, pg.37), ou seja a justiça é a mediadora das relações humanas.

A propriedade é um roubo; a prosperidade é uma liberdade.

 

Y.A – Seria a propriedade a causa das desigualdade?

Proudhon – “A sociedade se dividiu em três categorias de cidadãos correspondentes aos três termos desta fórmula (capital, trabalho, abstração); que dizer, porque se fez nela uma classe de capitalistas ou proprietários, uma outra classe de trabalhadores e uma terceira classe de capacidades, é que constantemente se chegou nela à distinção de castas e que a metade do gênero humano foi escrava da outra sociedade”

“Por toda a parte em que se pretendeu de fato, organicamente, estas três coisas, o capital, o trabalho e o talento, o trabalhador foi escravizado: ele se chamou alternativamente escravo, servo, pária, plebeu, proletário; o capitalista foi explorador: nomeia-se ora patrício ou nobre, ora proprietário ou burguês; o homem de talento foi um parasita, um agente de corrupção e servidão: este foi primeiro o sacerdote, mais tarde o clérigo, hoje o funcionário público, qualquer gênero de capacidade e de monopólio”. (PROUDHON, 1997, pg. 68-69).

 

Y.A – Você afirma que à medida que a sociedade fica mais esclarecida autoridade real diminui.

 

Proudhon – Sim. “Desde o momento em que o homem procura os motivos da vontade soberana, desde este momento o homem se revoltou”. (PROUDHON, 1997, pg. 27-28). “Pouco a pouco a experiência cria hábitos e estes, costumes, depois os costumes formulam-se em máximas, arranjam-se em princípios, numa palavra, traduzem-se em leis, às quais o rei, a lei viva, é forçado a respeitar. Vem um tempo em que os costumes e as leis são tão multiplicados que a vontade do princípio é por assim dizer englobada pela vontade geral; quem tomar a coroa é obrigado a jurar que governará conforme e os usos, e que ele não é ele mesmo, mas o poder executivo de uma sociedade cujas leis se fizeram sem ele.” (PROUDHON, 1997, pg. 28-29).

 

 

Y.A – O que você acha da democracia? E das eleições?

 

Proudhon – A democracia implica a destituição da autoridade e do governo. Sobre as eleições “o que me interessam, ainda uma vez, todas estas eleições? Que necessidade tenho de mandatários, tanto como de representantes? E, já que é preciso que determine minha vontade, não posso exprimi-la sem a ajuda de ninguém? Quero tratar diretamente, individualmente, por mim mesmo; o sufrágio universal é, a meus olhos, uma verdadeira loteria”. (PROUDHON, 1997, pg. 106 e 1080).

 

Y.A – E qual seria o “governo” ideal? Haverá legislador?

 

Proudhon – Será aquele baseado na soberania da razão, isso porque a autoridade do homem sobre o homem está em razão inversa ao desenvolvimento intelectual ao qual esta sociedade chegou, ou seja a ignorância é a única coisa causa do pauperismo que nos devora e todas as calamidades que afligem a espécie humana. Enquanto ao legislador, a função deste se limita à busca metódica da verdade.“Nem monarquia, nem aristocracia, nem mesmo democracia, pois que este terceiro termo implicaria um governo qualquer, agindo em nome do povo, e dizendo-se povo. Nada de autoridade, nada de governo, mesmo popular: eis a revolução. (PROUDHON, 1997, pg. 92).

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Y.A – Ah! Então o anarquismo possui um caráter redentor? A salvação da humanidade?

 

Proudhon – Eu confio na associação mútua como solução dos problemas sociais. “A Revolução sou eu”, é a minha máxima. Proponho uma mistura singular de realismo e de utopia. Realismo, quando enalteço a multiplicação das associações operárias de produção, único meio de afastar, ao mesmo tempo, o capitalismo privado e a nacionalidade estatal. Utopia, quando o sistema aumentará insensível e progressivamente, que ele acabará por absorver de modo paulatino, sem expropriação toda indústria, graças a um crédito gratuito que seria concedido às associações operárias por um “Banco do Povo”, espécie de caixa mútua funcionando fora de qualquer controle do Estado”.

Dessa forma, os trabalhadores, via “organização do crédito”, torna-se-iam “senhores do trabalho” ( a essa altura despareceu o capitalista) e reconquistariam o capital alienado. Primeiro retomaria para mãos dos trabalhadores, a pequena e depois a grande propriedade, a seguir as explorações, sendo assim “senhores de tudo”.

Nesta sociedade, as trocas seriam baseadas no trabalho e não no capital. Dessa forma, não haverá “transferência de riqueza”, mas sim, a sua criação.

“O meio de destruir a usura não é, mais uma vez, confiscar a usura; é opor princípio a princípio, isto é numa palavra, organizar o crédito.” (PROUDHON, 1997, pg. 71). Nós queremos a propriedade, menos a usura.

Organizar o crédito não é emprestar a juros, visto que isto sempre seria conhecer a soberania do capital; é organizar a sociedade dos trabalhadores entre eles, é criar a garantia mútua. O trabalho pode dar crédito dele mesmo, ele pode ser credor como o capital.

“ Nós não queremos o imposto sobre as rendas do Estado porque este imposto é, como o imposto progressivo, em relação aos capitalistas, somente um confisco e, em relação ao povo, somente uma transação, um logro. Nós acreditamos que o Estado tem o direito de resgatar suas dívidas, por conseguinte, de emprestar a juros mais baixos; não pensamos que lhe seja permitido, sob pretexto de imposto, faltar a seus compromissos. Nós somos socialistas, nós não somos bancarroteiros”.

 

Y.A – Você propõe igualdade de condição humana? É isso?

 

Proudhon –“Se o homem nasceu sociável, a autoridade de seu pai sobre ele cessa no dia em que, sua razão estando formada e sua educação completa, ele se torna o associado de seu pai. (PROUDHON, 1997, pg.29). O governo do homem pelo homem, sob qualquer disfarce, é opressão.“Para o desenvolvimento da idéia social, que cada cidadão seja tudo; porque, se não é tudo, ele não é livre; sofre opressão e exploração em algum aspecto” (PROUDHON, 1997, pg.70).

 

Y.A – O que é ser governado?

 

Proudhon – “Ser governado é ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legisferado, regulamentado, depositado, doutrinado, instituído, controlado, avaliado, apreciado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude” (PROUDHON, 1997, pg. 114).

 

Y.A – É impressão minha ou você é contrário as leis?

Proudhon – Acredito que o número excessivo de leis é prejudicial à sociedade. Isso porque, a simplificação legislativa nos reconduz, portanto, a idéia de contrato, conseqüentemente, à negociação da autoridade.

“ Não faça a outro o que vós não quereis que se vos faça; faça a outro como desejais que vos seja feito. Eis a lei e os profetas. Mas é evidente que isto não é uma lei; é a fórmula elementar da justiça, a regra de todas as convenções. (PROUDHON, 1997, pg. 101).

A essência da lei “é um efeito da minha vontade, uma condição do meu trabalho e uma fé da minha razão”.

 

Y.A – Qual a sua análise do governo Lula?

Proudhon – “ A revolução social está seriamente comprometida se ela chega pela revolução política. O poder nas mãos do proletariado, isto será um embaraço durante tanto tempo que a revolução social não será feita” (PROUDHON, 1997, pg. 41). Uma revolução não se pára nem se improvisa.

 

Y.A – E sobre o comunismo? Você faz serias críticas à Marx.

Proudhon – “Eles (os comunistas) submetem tudo à soberania do povo, ao direito da coletividade; sua noção de poder ou de Estado é absolutamente a mesma da de seus antigos senhores. Que o Estado seja intitulado de império, de monarquia, de república, de democracia ou de comunidade é evidentemente, sempre a mesma coisa. Para os homens desta escola, o direito do homem e do cidadão depende inteiramente da soberania do povo; sua própria liberdade é dele uma espécie de emancipação”. (PROUDHON, 1997, pg. 164).

“Na aparência sobre a ditadura das massas, mas onde as massas não têm poder senão aquele que é necessário para assegurar a servidão universal, segundo as fórmulas e máximas seguintes, emprestadas ao antigo absolutismo:

a) indivisão do poder;

b) centralização absorvente;

c) destruição sistemática de todo pensamento individual, corporativo e local, reputado dissidente;

d) polícia inquisitorial;

e) abolição ou pelo menos restrição da família, tanto mais da hereditariedade. (PROUDHON, 1997, pg. 167).

 

Y. A – Por fim, Proudhon não sei se os nossos leitores chegaram até final desta entrevista, os tempos mudaram e as pessoas não lêem na internet. Bom, a última pergunta é extremamente pessoal: queria que você explicasse “por que a revolução não é obra de ninguém”?

 

Proudhon – É uma transformação que se efetua espontaneamente no conjunto e em todas as partes do corpo político. É um sistema que se substitui a um outro, um organismo novo que substitui uma organização decrépita”.

Uma revolução verdadeiramente orgânica, produto da vida universal, mesmo que tenha seus mensageiros e seus executores, não é verdadeiramente a obra de ninguém. (PROUDHON, 1997, pg. 77).

* Citações retiradas do livro “A propriedade é um roubo e outros escritos anarquistas”. PROUDHON. J. Pierre. L&M Pocket, Porto Alegre, 1997.
*Fotos: Wikipedia

Entrevista com Juliano Spyer

“Conectado, o que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela” é resultado de dez anos de experiência em projetos de comunidades online e ações colaborativas nos Estados Unidos, América Latina e Espanha. O autor da obra, Juliano Spyer, historiador e palestrante para o curso de mídias digitais da PUC-SP e do Departamento de Publicidade da ECA-USP, aborda os desafios e as polêmicas geradas pela web em seu livro. Em entrevista (por e-mail) exclusiva para o blog herdeirodocaos, Spyer fala sobre web 2.0, jornalismo open-source, blogueiros, desafios para os jornalistas e declara ser dependente da internet”.

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Confira a entrevista sem cortes e edição. Na íntegra.

 

 

Yuri Almeida -“Conectado, o que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela”. É o título do seu livro, lançado recentemente. A primeira pergunta que lhe faço é justamente esta: o que a internet fez com você e o que você pode fazer com ela?

 

Juliano Spyer – O título e subtitulo do livro indicam o dilema de quem usa a internet: ela liberta ao mesmo tempo que prende. Quem está conectado, está preso à máquina, à rede e, ao mesmo tempo, consegue ir muito mais longe. A internet fez isso comigo: me tornou um dependente que, inclusive apresenta ocasionalmente sintomas de abstinência. E o que eu fiz com ela, entre outras coisas, fiz um livro. 😉

 

Y.A – Você é um defensor do sistema open-source. Mas, porque não disponibilizou gratuitamente seu livro na rede?

 

J.S – Em poucas palavras, porque o open não se opõe ao mercado, como aponta o professor Yochai Benkler, autor do livro mais importante sobre esse assunto, The Wealth of the Networks, na opinião de intelectuais importantes como o Lawrence Lessig. Entre outros motivos, optei por lançar o livro apenas em papel porque a participação da editora Jorge Zahar adicionou muito valor ao livro, desde o valor do endosso, passando pela contratação de revisores, ilustradores, capistas e muitos outros profissionais, até a distribuição feita para todo o país. Tenho certeza que se o livro tivesse sido lançado apenas online em PDF, voce nem teria ficado sabendo dele e se tivesse, dificilmente se daria ao trabalho de ler, justamente porque eu não sou conhecido e porque existe conteúdo demais na rede, um total overload de informação.

 

Y.A – A evolução da inteligência coletiva passa pelo desenvolvimento dos conteúdos e programas de forma colaborativa?

 

J.S – A idéia – de novo fazendo referência ao Benkler – é que a rede estimula a formação de uma economia de trocas de informação que funciona como alternativa à economia de mercado. Além de trabalhar por dinheiro, as pessoas trabalham para suprir outras necessidades como formar uma reputação profissional ou se sentir bem apoiando projetos que considere relevantes. Isso justifica o sucesso de projetos bottom-up como o Linux e a Wikipedia.

 

 

“a rede estimula a formação de uma economia de trocas de informação que funciona como alternativa à economia de mercado”.

 

Y.A – Recentemente, a revista The Economist fez uma parceira com os 100 blogs, que abordam o debate sobre a política, mais influente dos E.U.A. A estratégia da revista é antecipar o conteúdo para que os blogueiros comentem as matérias gerando, desta forma, interesse no leitor em adquirir a revista. Esse fato explica o que você destaca: que o blog propicia uma experiência libertadora: a de conversar com audiências?

 

J.S – A experiência libertadora a que me refiro é ter a oportunidade de aprender a conversar com audiências, de cada pessoa poder assumir sua parte de responsabilidade pela condução do debate na esfera pública. O fato da The Economist – talvez a revista mais influente do mundo hoje – reconhecer a importância da comunidade blogueira confirma que os meios tradicionais estão procurando maneiras para se inserirem e aproveitarem o fato da comunicação ser barata e acessível.

 

Y.A – O Jornal de Debates promoveu a seguinte discussão: a internet aproxima ou distancia as pessoas. Qual a sua opinião?

 

J.S – Acho que a internet permite que mais pessoas falem entre si. Nesse sentido, ela aproxima.

 

Y.A – Na opinião de Pierre Lévy: “A web 2.0 significa apenas que tem muito mais gente se apropriando da tecnologia da internet, o que a torna um fenômeno social de massa. Você propõe um conceito de web ao vivo e mídia social . Poderia explicar melhor estes conceitos?

J.S – Eu não gosto do termo Web 2.0 porque acho que ele é vago e pode servir para pessoas tirarem proveito do aquecimento da economia oferecendo produtos e serviços que não sejam úteis ou apropriados para as necessidades de quem compra. Web ao vivo é um termo que eu vi no blog do José Murillo Jr e se refere, até onde eu entendo, a essa infraestrutura de comunicação que é sustentada pela participação de pessoas – em oposição, por exemplo, à web que usa notícias “frias”, produzidas e distribuídas em massa pela indústria da notícia. Mídia social vai pelo mesmo caminho.

“cada pessoa poder assumir sua parte de responsabilidade pela condução do debate na esfera pública”.

 

Y.A – Qual a sua avaliação das experiências de jornalismo colaborativo no Brasil?

 

J.S – Acho que estamos presenciando um momento muito rico, de amadurecimento do usuário brasileiro da internet. Até pouco tempo, muita gente que tinha coisas interessantes a dizer não conseguia porque usava a Web apenas para fazer pesquisas e mandar emails. Meu livro foi escrito para esse público, com o objetivo de acelerar esse processo da abertura dos canais de comunicação.

 

Y.A – A prática mostra que o brasileiro gosta mesmo é relacionamento. Você acha que este componente é essencial para as experiências colaborativas? Como poderíamos aplicar o relacionamento em uma experiência de jornalismo colaborativo, por exemplo?

 

J.S – O blog é um instrumento de relacionamento. A maioria dos blogs indica uma série de outros blogs, que constituem sua rede de contatos. O blogueiro vive de reprocessar e repassar as informações que o interessam. Quanto mais o assunto tratado no blog for de interesse público, mais ele estará inserido em comunidades e participará da discussão e da difusão de notícias.

 

Y.A – Você concorda que o blog seja uma manifestação individual?

 

J.S – Sim e não. Um blog só existe junto com a blogosfera. Mas ele é a expressão de uma ou poucas pessoas.

 

Y.A – Em uma entrevista você declarou: “Logo seremos parte de um Matrix e as pessoas vão preferir usar o Google a usar suas memórias”. Isso prova que a tecnologia é a extensão do homem? Ou a internet será uma dependência nociva?

 

J.S – A tecnologia sempre causa dependência. Será que nos adaptaríamos facilmente à vida sem eletricidade? Acho que a frase que voce citou apenas indica que estamos mais submetidos a essa infraestrutura de armazenamento e transmissão de informações.

 

“A tecnologia sempre causa dependência”.

 

Y.A – Ao afirmar que um blogueiro profissional não é diferente de um jornalista, você esta se referindo as técnicas utilizadas (reportagem, entrevista) e o fim da atividade (produzir conteúdo) ou o blogueiro também já pertence ao campo social do jornalismo. Eles possuem o mesmo capital social? Desempenham a mesma função na sociedade?

 

J.S – Eu acho que o blogueiro não é só a pessoa que usa o blog para se comunicar. O blogueiro profissional, que ganha para escrever, está se colocando na função de jornalista.

 

Y.A –Quais seriam os desafios (resultante da internet) para os futuros jornalistas?

 

J.S – acho que o desafio se resume ao que o dan Guilmor disse no seu We Are the Media: “aprender que sua audiência sabem mais que você e que isso pode ser uma grande vantagem”.

Y.A – O que você acha mais interessante na internet? E o mais bizarro?

J.S – Acho que a própria internet é o mais interessante da internet. E com relação a coisas bizarras, é mais fácil ler o livro The Cult of the Amateur, que mostra muitos motivos para a gente ter saudades da época em que a internet não existia.

 

Entrevista com Alex Primo

 

Entre um vídeo de Led Zepplin e Mr. Bean no You Tube, sabe-se lá como encontrei uma entrevista  com Alex Primo comentando o seu livro mais recente, “Interação Mediada por Computador”.

A entrevista fora realizada por Juremir Machado da Silva, no programa Livro Aberto e esta dividida em três vídeos. Seguem abaixo com uma pequena descrição do que será encontrado em cada um deles.

Confira:

Parte I

Primo explica o objetivo da sua obra: compreender o indivíduo e sua interação com as máquinas, bem como as influências da rede mundial de computadores sob as relações interpessoais. O foco do livro é analisar o inter (o que estar entre) as interações mediada digitalmente.

Parte II

É abordado a reconfiguração da cognição após a sociedade em rede. Primo faz uma abordagem sistêmico-racional, onde a alteração de uma PARTE transforma o TODO. Desse modo, a partir do momento em que a tecnologia digital integra a vida humana, novas relações são constituídas.

Há reflexões sobre o tempo (o tempo continua o mesmo, porém o que mudou foi a nossa percepção sobre ele) e crítica à “inteligência coletiva” de Lévy. “Nós não estamos pensando juntos, não há um consenso e os consensos são perigosos porque geram um pensamento comum”, argumenta.

Parte III

Os questionamentos passam pela “inclusão digital” e defesa da web 2.0 como sinônimo de cooperação e a Wikipedia como o ícone deste estágio. Para Primo, devido a velocidade dos upgrades será difícil ocorrer uma grande revolução no que tange a internet. “ As revoluções serão contínuas”, sustenta.

 

Pesquisadores comentam jornalismo open-source

A série “Entrevista da FENAJ”, realizada neste mês, pela entidade homônima contou com a participação dos jornalistas e pesquisadores Antonio Hohlfeldt e Alfredo Vizeu. Foram diversas perguntas como a isenção no jornalismo, tevê digital, Conselho Federal de Jornalistas além da péssima campanha do Estadão contra os blogs.

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A minha questão fora direcionada para o jornalismo open-source.

<<A entrevista completa pode ser vista aqui.>>

E-FENAJ – Yuri Almeida, da Bahia, quer conhecer suas opiniões sobre o jornalismo colaborativo (open-source)?

Antonio Hohlfeldt – Do ponto de vista de promover a circulação de informação, penso que o open source journalism é positivo. Contudo, também penso que o jornalista deve se rum profissionalmente, especificamente treinado para mediar a circulação de tais informações, oi que significa inclusive avaliá-las e saber como redigi-las. Não se pode ser ingênuo imaginando que o open source elimina a manipulação ideológica ou qualquer outra. Aliás, é mais fácil controlar eticamente uma categoria profissional, com seu código de ética, do que diferentes fontes que não tenham quaisquer responsabilidades, promovendo boatos, por exemplo, que podem ter conseqüências desastrosas para a sociedade, inclusive produzindo resultados artificiais extremamente negativos. Precisamos, pois, de um posicionamento de equilíbrio, que só o tempo vai nos possibilitar.

Alfredo Vizeu – Entendo que essa questão está ligada à resposta anterior. Acho que o chamado “Jornalismo Colaborativo” é uma forma de expressão e comunicação da sociedade muito maior do que o Jornalismo. Ou seja, não se restringe só as práticas jornalísticas.