Àqueles que esperavam uma palestra sobre mídia e violência sairam decepcionados com a apresentação do Domingos Meirelles, que esteve ontem no Hotel Fiesta a convite da FIB para falar sobre a temática. No lugar de uma palestra, Meirelles trouxe aspectos e histórias interessantes acerca do jornalismo brasileiro, numa conversa simples mas repleta de experiências pessoais e relatos épicos que sacudiram o Brasil. Plano Real, Coluna Prestes, Ditadura Militar, Rede Globo…e vários outros.
Para a maioria dos participantes (composto basicamente de estudantes) o evento foi um saco. Mas, para mim ouvir o Meirelles e seus 43 anos de profissão, fora um momento de refletir sobre o jornalismo, ou melhor ratificar algumas idéias que tenho a respeito da profissão/campo/atuação jornalística.
– a imparcialidade é um mito;
– o jornalista é co-autor da notícia, é ele quem seleciona o que será ou não publicado, a forma que irá contar o fato, construir a notícia;
– em alguns casos, a mídia serve melhor aos criminosos do que a sociedade (em referência as coberturas de crimes, assaltos…);
– as vezes o sangue (a quantidade de) é mais importante do que o próprio acontecimento;
– a audiência é o que norteia o jornalismo na televisão;
– na tv só tinha gente de olhos azuis, bonitas, verdadeiras modelos. Fui o primeiro jornalista (além de velho, como ele mesmo se intitulou) a apresentar um programa com barba;
– o jornalista precisa ter em mente que uma notícia poderá influência o comportamento social, a cultura, a política;
– escrever uma matéria é fácil, o difícil é publicá-la (a respeito de conteúdo produzido que foge a linha editorial do veículo).
São idéias pueris, básicas (como disse uma moça no elevador sobre o jornalismo, também com vasta experiência no mercado). Pórem, para a maioria dos participantes, Meirelles deu uma aula (na verdade uma desconstrução) do que é jornalismo e como fazê-lo. Desmitificou mitos, lendas e valores do campo jornalístico, abertamente defendidos na acadêmia, abraçados pelos focas e impossíveis de serem colocados em prática cotidiana.
Simbolicamente, Meirelles, 43 anos de experiências de jornalismo, passagem pelos principais veículos do país, repórter especial da Rede Globo, subir ao púlpito e fazer declarações como essas revela a “agonia” por que passa o jornalismo e sua necessidade de se re(inventar).
Será que o povo entendeu? Sinceramente, sai com essa dúvida do evento…