Globo lança “princípios editoriais” mas não cumpre o que escreve

O jornalismo brasileiro ganhou um novo capítulo no dia 7 de agosto, quando as Organizações Globo divulgaram um documento com os princípios editoriais que norteiam as redações do grupo, em TV, jornal, revista, rádio ou internet. O anúncio realizado no Jornal Nacional deixou os cidadãos intrigados com a causa que influenciou a elaboração e divulgação do documento, assinado pelo presidente das Organizações Globo, Roberto Irineu Marinho, e dos vices João Roberto Marinho e José Roberto Marinho

Na versão oficial, a Globo sinaliza que a “era digital” e a “colaboração” causou “uma certa confusão entre o que é ou não jornalismo, quem é ou não jornalista, como se deve ou não proceder quando se tem em mente produzir informação de qualidade”. Nesse cenário, segundo a nota divulgada, as empresas precisam “expressar de maneira formal os princípios que seguem cotidianamente” para que assim, o público “verifique se a prática é condizente com a crença”, explica a empresa.

Porém a “era digital” e os processos colaborativos de produção de conteúdo já contabilizam mais de uma década, o que nos faz questionar: dez anos depois a Globo elabora um documento intitulado “Princípios Editoriais das Organizações Globo”? O fato gerador para o tal “princípio editorial” ainda é repleto de mistério e até o final do presente artigo não se encontrou resposta objetiva.

Uma pista para entender o que motivou a Globo divulgar o documento pode ter sido uma resposta ao mal-estar causada na redação global descrita no post do ex-jornalista global, Rodrigo Vianna, onde revela que a ordem da empresa é partir para cima de Celso Amorim, novo ministro da Defesa.

“O jornalista, com quem conversei há pouco por telefone, estava indignado: “é cada vez mais desanimador fazer jornalismo aqui”. Disse-me que a orientação é muito clara: os pauteiros devem buscar entrevistados – para o JN, Jornal da Globo e Bom dia Brasil – que comprovem a tese de que a escolha de Celso Amorim vai gerar “turbulência” no meio militar. Os repórteres já recebem a pauta assim, direcionada: o texto final das reportagens deve seguir essa linha. Não há escolha”, diz trecho do post.

Para quem conhece o modos operandi do jornalismo televiso sabe que nenhuma empresa divulga “seus princípios” da noite para o dia, como um serviço ao público, como assinala o documento oficial. O documento casa perfeitamente com as denúncias publicadas no post do Rodrigo Vianna e revela que o clima na emissora, após a decisão de partir para cima do Celso Amorim, não é do melhores.

Na história da emissora tem sido natural a publicação de cartas de princípios em momento de crises. Parafraseando o ex-presidente Lula, “nunca na história desse país” a Rede Globo enfrenta tamanha crise, seja de audiência, de credibilidade, financeira, além da concorrência da Rede Record e demais veículos, que, diariamente conquista fiéis telespectadores e anunciantes.

Em 1984, ao se aproximar o fim da Ditadura Militar, Roberto Marinho escreveu um editorial no dia 7 de outubro intitulado “Julgamento da Revolução”. No texto, Marinho disse que o apoio da Rede Globo ao Golpe Militar foi acertado pois refletia a “vontade do povo brasileiro” e a “defesa das instituições democráticas”. O editorial elogia ainda os êxitos da Ditadura Militar e sinaliza que, durante o processo eleitoral, as conquistas do governo dos “milicos” deveriam ser preservadas.

Em 1989, após a manipulação do debate eleitoral que destacou os melhores momentos de Fernando Collor e os piores momentos de Lula, a Rede de Globo também ressaltou quais os princípios editoriais que norteavam a empresa:

“Nosso trabalho, como profissionais da televisão, foi e continuará sendo o que fez a televisão nesses dois debates. Manter aberto esse canal de duas mãos entre o eleito e os eleitores, para que melhor se exerça a democracia”.

No mesmo ano, a Globo assinou outro documento intitulado “Direito de Saber”, onde destaca:

“O povo brasileiro não está acostumado a ver desnudar-se a seus olhos a vida particular dos homens públicos. O povo brasileiro também não está acostumado à prática da Democracia. A prática da Democracia recomenda que o povo saiba tudo o que for possível saber sobre seus homens públicos, para poder julgar melhor na hora de elegê-los”

O Direito de Saber, na verdade, serviu como justificativa para o episódio onde a Globo mostrou a ex-namorada de Lula no Jornal Nacional acusando-o de pedir para fazer um abordo e de ter feito declarações racistas. Curiosamente, Miriam Cordeiro (a ex-namorada), depois de aparecer no JN figurou na propaganda de Collor. Posteriormente descobriu-se também que Miriam recebeu dinheiro para realizar as declarações.

Princípio editorial da Globo não conduz com prática da emissora

No mesmo dia em que anunciou os “Princípios Editoriais das Organizações Globo”, o Jornal Nacional apresentou uma matéria onde noticia (video abaixo): “está foragida a merendeira que pôs (perceba, uma acusação. O correto seria “acusada”) de colocar veneno de rato no lanche de crianças em uma escola pública de Porto Alegre”.

Valendo-se da opinião apenas da Polícia, o JN informa que a merendeira assumiu o crime, mas em nenhum momento ouviu, por exemplo, o advogado da vítima, que oito horas antes negava a versão policial nos principais veículos da região. Uma simples pesquisa no Google seria suficiente para descobrir outro lado do fato.

Curiosamente, no tal documento de “princípios editoriais” está escrito a seguinte orientação aos funcionários da emissora:

“Na apuração, edição e publicação de uma reportagem, seja ela factual ou analítica, os diversos ângulos que cercam os acontecimentos que ela busca retratar ou analisar devem ser abordados. O contraditório deve ser sempre acolhido, o que implica dizer que todos os diretamente envolvidos no assunto têm direito à sua versão sobre os fatos, à expressão de seus pontos de vista ou a dar as explicações que considerar convenientes”;

Em outro trecho do documento consta:

Correção é aquilo que dá credibilidade ao trabalho jornalístico: nada mais danoso para a reputação de um veículo do que uma reportagem errada ou uma análise feita a partir de dados equivocados. O compromisso com o acerto deve ser, portanto, inabalável em todos os veículos das Organizações Globo.

Correção. Esta é a palavra que falta a prática diária e histórica da Rede Globo, pois são quase nove décadas em defesa das classes dominantes, da Ditadura Militar, em jornalismo servil aos interesses econômicos e norteados pelo preconceito e discriminação contra as classes dominadas. A velha palavra de ordem dos movimentos sociais “O povo não é bobo. Abaixo a Rede Globo”, nunca fez mais sentido.

Quando a capa da revista Época virou game…

A revista Época estampou em sua capa desta semana o Space Invader para ilustrar a reportagem “Os hackers invadem o Brasil”. Para além dos erros jornalísticos da matéria, a capa (enquanto ilustração e recurso multimídia) é fantástica, pois permite aos leitores “defender Brasília dos hackers”.

Neste post é explicado o processo de construção da capa e ao clicar na imagem acima é possível jogar Space Invader.

 

 

 

Lígia Braslauskas fará palestra em Salvador

O processo de implantação do sistema digital na Folha e a coleta/atualização das informações na versão online e impressa. Parceria com o Uol, entre outros, serão os assuntos abordados pela editora de jornalismo online da Folha de São Paulo, Lígia Braslauskas.

A palestra é promovida pela FTC Salvador (veja no mapa) e será realizada no dia 20 (sábado), das 9h às 13h, no auditório (Astor Pessoa) da instituição, no módulo 4, nível 5 – Av. Paralela. Entrada gratuita.

PPGCOM/UFRJ promove mini-cursos em comunicação

Agência Brasil

Jésus Martín-Barbero ministrará aulas

O Programa de Pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ, o PPGCOM/UFRJ realiza mini-curso voltados para a área de comunicação. O evento começou em agosto e conta com a participação grandes estudiosos da temática.

Randal Johnson (Literatura, Cinema e Televisão”) e Luís A. Albornoz (Webjornalismo) já passaram pelo PPGCOM/UFRJ. As suas aulas podem ser assistidas aqui.

Na próxima semana (8 a 12) será a vez do Jésus Martín-Barbero com o tema: “Cartografias da sensibilidade e da tecnicidade”. Na seqüência, o prof. Micael Herschmann ministrará o mini-curso, que contará ainda com o Seminário Comunicação e História.

Informações podem ser obtidas na secretaria do PPGCOM/UFRJ (tel: 3873-5077 / 3873-5075) ou no site

Para quem não está no Rio, a alternativa é acompanhar na íntegra as aulas no site do evento.

Análise do site do Correio


Se excelente fora a palavra para definir o novo Correio, em sua versão impressa, péssimo é o resultado final da avaliação do site do Correio. Para não ficar só nos adjetivos negativos adotarei como metodologia os pontos-chaves, propostos pelo professor Marcos Palácios, para pensarmos o ciberjornalismo. A saber:

1- Interatividade – capacidade de fazer com que o leitor/usuário sinta-se parte do processo noticioso, ou literalmente interaja com o conteúdo.

2- Personalização –
opção oferecida ao usuário para configurar os produtos jornalísticos de acordo com os seus interesses individuais. Assim, quando o site é acessado, este já é carregado na máquina do usuário atendendo aos padrões previamente estabelecidos, por exemplo.

3- Hipertextualidade –
possibilidade de interconectar textos através de links.

4- Multimidialidade –
convergência dos formatos das mídias tradicionais (imagem, texto e som) na narração do fato jornalístico.

5- Memória – o acúmulo das informações é mais viável técnica e economicamente do que em outras mídias. A memória pode ser recuperada tanto no nível do produtor da informação como do usuário.

Aplicando tais conceitos na análise do Correio temos o seguinte resultado:

Interatividade –
está restrita ao “comentário”, “indique” a matéria por e-mail e o fórum de discussões, interação reativa, só isso. Chats com jornalistas, troca de e-mails entre leitores e jornalistas ou debate aberto no sítio jornalístico, por exemplo, não fora explorado pelo Correio. Existe ainda as tradicionais enquetes, que não teve nenhuma relação com o conteúdo abordado. Uma das perguntas do dia foi: O que você prefere: acarajé, abará, tanto faz.

Fiquei hiper feliz ao ver a seção “VC no Correio”. Pensei que iria encontrar um ode à produção colaborativa, mas tudo o que tinha lá foi imagens enviadas por leitores (aliás como eles mandaram as fotos?), enquetes e uma espécie de “opinião do leitor” velha de guerra.

É inacreditável que em uma seção com este título não tenha sequer uma frase/botton: Mande sua notícia. Colabore com o Correio. Aqui você faz a notícia. Ou o simples: Sugira uma pauta…

Impossível produzir o jornal com “o que a Bahia quer saber” sem levar em conta o conteúdo colaborativo.

2- Personalização – não existe.

3- Hipertextualidade – Onde estão os links do Correio? Certamente deve ter dado algum erro na página. A turma vai produzir jornal na internet, sem conteúdo relacionado? Sem hipertexto?

É primário dizer, mas o hipertexto é a estrutura básica de um texto na web.

4- Multimidialidade – Tem também uma seção chamada Multimídia. Narrativas jornalísticas com videocast, podcast, infográficos potencializando a forma de se contar as histórias? Nada disso, vídeos do You Tube e afins, assim como a Galeria de Imagens.

Penso que não faz sentido a seção Multimídia. O conteúdo multimídia deve estar integrado à matéria, assim como os hipertextos.  Será que a seção “multimídia” não passará de um depósito de vídeos e imagens?

5- Memória – Acreditem. Apenas na editoria 24h existe um campo destinado a busca por notícias. Jornalismo em Base de Dados nem pensar.

Para os que chegaram até aqui, certamente, não se assustarão quando eu comentar que os as colunas estão travestidas de blogs, que o layout dos blogs é pior do que o zip.net do UOL, que não há links externos e também estão descontentes com a falta de diálogo do Correio com os blogueiros baianos. No mínimo poderiam lançar o obsoleto modelo Yahoo Post!, algo como Correio Post!.

As matérias devem ter mais de seis linhas. Objetividade não significa “castrar” informações úteis para a compreensão do fato. A navegabilidade está prejudicada com a mono-editoria 24h. Talvez se adicionassem um sub-menu nesta seção apresentando o leque de sub-editoras e o conteúdo fosse agregado/classificado por sub-editorias torne mais agradável “navegar” no site, afinal eles já sabem que o leitor não tem tempo a perder. Eu perdi muito tempo procurando informações.

Mas, cabe registrar que, numa média de 5 minutos, uma informação é publicada no site, ou seja, a turma está produzindo, falta mesmo organizar o conteúdo e apresentá-lo melhor. Além disso, falta RSS, um microblog, blog da redação (mas um blog mesmo), infográficos, previsão do tempo, animar a página, melhorar a dinâmica da arquitetura, o jornal está sem vida. Corrigir as quebras de linhas. Definir o que é realmente interessante, o que merece destaque. O site é um mosaico. Melhorar o flip. Aumentar a fonte da manchete…

Existe uma tecla “delete”. Apertem-na.

Tenho certeza que o site passará por mudanças. A equipe do Correio já mostrou que tem potencial, vejam o impresso…magistral, primoroso, cândido, harmonioso.

Análise do novo Correio da Bahia, agora só Correio

Correio

Excelente. Esta é a melhor palavra para definir o novo Correio em sua versão impressa. O formato Berlinder
facilita a leitura e o manuseio do jornal. O projeto gráfico fora elaborado por Guillermo Nagore, designer do The New York Times. Já o site…putz!…Deixarei para amanhã a análise.

Com um cabeçalho mais compacto e nome das editorias em destaque é fácil “navegar” pelo Correio e encontrar o que se procura. Gostei também da tipologia, deu um “ar” mais moderno ao jornal. O texto curto, preciso, objetivo aliado as fotos e infográficos tornam o conteúdo mais leve, um convite à leitura. Porém, os grafismos utilizados para destacar citações poderiam ser maisclean. Usaram uma aspas do tempo dos linotipos.

De cara, observei uma mudança qualitativa na pauta, fugindo do chapa-branquismo que imperava no Correio. Falar de isenção/equilibrio ainda é cedo, e demanda uma análise mais científica.  Algumas matérias, contém ramificações/evolução da pauta, como “Acordes furtados” da Mariana Rios, onde aborda o furtos de instrumentos musicais. A repórter ouviu bastante gente, trouxe dados, histórias e alternativas encontradas pelos músicos para “driblar” os assaltantes. O melhor é que a matéria fora dividida em alguns blocos autônomos, mas interligados, ou seja você pode ler apenas um bloco e entender a matéria, mas ao ler todo o conteúdo tem uma dimensão maior do problema.

O jornal estampou uma foto da equipe, formada por quase 200 colaboradores. A turma é bastante nova (mais tem é moça bonita!!!), o que revela que o Correio tirou alguns “dinossauros”, o que já explica algumas mudanças na concepção do veículo.

Já falei da mudança na redação, inspirada no The Daily Telegraph, com o SuperDesk.

A palavra-chave é planejar, diz o texto de apresentação do novo Correio, que irá trabalhar “para que o leitor tenha menos trabalho em entender o que é preciso saber”. Da maneira mais didática, direta, clara  e sem rodeios.(…) O jornal trabalha com dois ritmos. Histórias e notícias.

Por fim, citaram a frase: “A melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor”, do Gabriel García Márquez”. Notícias melhores. É o que esperamos do novo Correio, que custa agora R$1 (segunda a sexta) e R$ 1,50 no domingo.

Correio da Bahia lança nova versão nesta quarta-feira

Nova "cara" do Correio da Bahia

Nova "cara" do Correio da Bahia

Nesta quarta-feira (27) será lançada a nova versão impressa do Correio da Bahia. O formato será o Berliner e irá valorizar imagens e textos curtos. O produto já fora apresentado ao mercado publicitário e diversos outdoors foram espalhadas em Salvador anunciando as boas novas.

Novos profissionais foram contratados e novas editorias foram criadas para dar mais dinamicidade ao conteúdo, como 24 horas, com notícias rápidas; uma segunda com matérias mais completas; a terceira com reportagens sobre comportamento; e a última destinada a cobertura esportiva.

O vídeo abaixo ilustra algumas dessas alterações

Além disso, o Correio da Bahia está a redesenhar a estrutura física buscando para comportar a característica multimídia que o veículo pretende trilhar.

De acordo com a Innovation, empresa de consultoria e design responsável pelas mudanças no jornal baiano, eles foram contratados para reinventar o veículo, mesmo que para isso fosse necessário mudanças drásticas. Ainda de acordo com a Innovation, o novo Correio da Bahia “não irá roubar leitores de outros jornais, mas irá criar novos”.

Os jornais baianos já descobriram o twitter?

O relógio marcava 17h45 quando uma amiga do trabalho me avisou sobre a manifestação organizada por moradores do Bairro da Paz. O marido dela, que passava pelo local, informou-lhe sobre o protesto, que depois descobri que fora motivado pela onda de violência que abateu-se sob a localidade.

Não perdi tempo e divulguei a informação via twitter, tendo em vista que a fonte era digna de confiança. Twittei às 17h46 e furei (ou seja, publiquei em primeira mão a notícia) a mídia baiana. Fiz o mapeamento da imprensa de Salvador e do interior do Estado e a primeira referência ao assunto fora realizado pela Rádio Sociedade AM, às 18h14. No A Tarde, o maior jornal da capital baiana, somente às 18h46 subiram a notícia.

O intervalo de tempo entre meu twitt e a publicação da Rádio Sociedade revela as falhas/ausência no aspecto dialógico/relacional dos media com os cidadãos. Escrevi um post onde argumento que o ciberjornalismo demanda uma mediação mais dialógica dos jornalistas com o seu público.

Penso que o twitter é uma ferramenta essencial para tal “conversa” com os leitores (principalmente pela quantidade qualidade dos alertas) e não apenas isso, o monitoramento dos twitt permite identificar em “tempo real”o que acontece na cidade. Por que os jornais não investem em um livestream das cidades onde fazem cobertura?

Twitter

Twitter

Tenho um questionamento ainda mais simples: os jornais baianos já descobriram o twitter?

Na volta para casa zapeava as rádios locais e todos os programas pediam aos seus leitores que ligassem para as redações e comentassem o que se passava. Muito interessante a experiência colaborativa que fora desenvolvida. Os ouvintes ligaram e comentavam o que dava para observar, uma moça estava mais próxima do protesto, disse que teve porrada, o que estava mais longe afirmava que esta tudo parrado. O mais impressionante é que os radialistas/jornalistas tinham como fonte apenas os seus ouvintes, não havia como deslocar a equipe de reportagem e, geralmente, as fontes oficiais não falam em momentos de crise.

Mas aí volta a minha inquietação: como os media se relacionam com as redes sociais/mídia colaborativa. Se monitorassem o twitter, por exemplo, teriam um belo material para complementarem sua cobertura, neste caso. Ainda é possível fazer jornalismo sem contar com a colaboração do público? Ou ao menos saber o que andam dizendo por aí?

Em paralelo a cobertura mode in colaborativa, os meus twitts sobre o protesto dos moradores do Bairro da Paz agendaram algumas reações no twitter:

Para o Leo Borges o twitt serviu para “facilitar” a sua mobilidade;
Belote lembrou do protesto passado e as três horas em que ele ficou parado;
Tiago Celestino avaliou os protestos
Gerson leu o twitt e se mandou para casa
Caio informou, via celular, para sua amiga os motivos do engarrafamento
Gabriela relatou sua aventura no engarrafamento

Jornais e jornalistas precisam aprender a se “relacionar” com as novas tecnologias de informação e comunicação e com o seu público, pois é deste conjunto que virão pautas, diálogos e quem sabe a própria manutenção da atividade jornalística.

Em tempo, o Pelosi me lembrou que a AGECOM já utiliza o twitter na divulgação de conteúdo.

*twitter – leia-se microblogs

Agora sou escritor

livro

Apesar de cibercultura, ciberjornalismo, jornalismo colaborativo, novas tecnologias e afins serem assuntos diários aqui no blog e em mesa de bar, navego também por outros mares. E um desses oceanos é o jornalismo literário e/ou narrativas contemporâneas, onde o produto final é um jornalismo poético, mais detalhado e mais trabalhado, que transmita ao leitor o cheiro, gosto e a visão do objeto/cenário narrado.

Uma experiência dessas narrativas contemporâneas será lançada hoje, às 19h, na Livraria Saraiva, no Salvador Shopping. Trata-se do livro Narrativas de Todos os Santos – Bahia de Perfil, que traz 25 reportagens sobre paisagens, contexto e personagens da capital baiana. A obra é resultado da disciplina Narrativas Jornalísticas e de uma oficina de textos ministradas pela professora Cremilda Medina lá na pós-graduação.

Tive a honra de ter meu texto “Conversas furtadas” selecionado para integrar o livro. Estão todos convidados para o lançamento que contará com a presença da Cremilda, grande mestra.

Depois disponibilizo a reportagem aqui e sorteio um livro.

A importância do diploma para o jornalismo

Diploma

Primeiro quero deixar claro que esse papo de que só existirá jornalismo de qualidade com profissionais formados em universidades/faculdades é uma fraude. O que irá garantir a qualidade do jornalismo é a formação cidadã do profissional e veículos de comunicação voltados para o interesse público, onde a notícia seja o ponta pé inicial para o debate público e não moeda de troca no mercado publicitário ou aquilo que separa os anúncios, como diria o Chatô.

Dito isso, lutar pela defesa do diploma é defender um dos campos sociais mais importantes da contemporaneidade: o jornalismo. Estou aqui a defender não jornalismo canalha do mainstream midiático, mas aquela atividade profissional, talvez utópica, obsoleta, ultrapassada, onde o jornalista é um agente social e cria uma forma específica de informação organizada e portanto, uma forma de conhecimento.

O jornalismo é um campo social, de acordo com o sociólogo francês, Pierre Bourdieu, que compreende campo como o funcionamento das sociedades complexas, ou seja, suas regras, estruturas hierárquicas, funções e posições. O campo também é o palco de luta entre os atores do microcosmo visando se apropriar de um capital (seja ele simbólico, financeiro) do campo.

Resumidamente, cada campo corresponde à um habitus e estabelece os valores e formas de acesso (o diploma para ingressar na atividade jornalística, por exemplo) ao campo. Não sou tão otimista como os coleguinhas da FENAJ, que escrevem no manifesto:

“A manutenção da exigência de formação de nível superior específica para o exercício da profissão, portanto, representa um avanço no difícil equilíbrio entre interesses privados e o direito da sociedade à informação livre, plural e democrática”.

Vocês poderão ver o meu nome no abaixo-assinado, não porque concordo com a tese acima, tendo em vista que encontrar o equilíbrio entre os interesses privados e o direito da sociedade informação livre depende muito mais sistemas de responsabilização dos media (MAS – de Media Accountability Systems) para lembrar do Bertrand, que propunha códigos de conduta, a informação e crítica sobre os media, a investigação científica, os conselhos de Imprensa, a alfabetização mediática para monitorar e elevar a qualidade dos mass media, mas porque acredito no jornalismo como profissão, produção de informação e conhecimento.

E o diploma nesta história é o passaporte para o ingresso campo social, a sua defensa é sinônimo da reserva de mercado, porém, simbolicamente, a movimentação nacional pela defesa do diploma revela a agonia por que passa jornalistas e jornalismo com as novas tecnologias de informação e comunicação e a liberação do pólo emissor. Nunca a atividade jornalística fora tão criticada. Nunca os jornalistas foram tão desnecessários em tempo de web 2.0, blogs e cidadãos-repórteres.

Isso é ótimo, porque força os apáticos jornalistas a lutarem pela legitimidade da profissão. Tal luta trará consigo também o debate sobre as escolas de jornalismos: Qual o papel das escolas? Investir na crítica ou na técnica? Priorizar a formação para o mercado ou apostar na formação humanista do jornalista, para que este entenda-o e se posicione diante dele?

E o mercado? Poderá casar qualidade com rentabilidade? Apostará na reciclagem constante da sua equipe ou ainda é melhor três estagiários a um profissional?

“Depois de 70 anos da regulamentação da profissão e mais de 40 anos de criação dos Cursos de Jornalismo, derrubar este requisito à prática profissional significará retrocesso a um tempo em que o acesso ao exercício do Jornalismo dependia de relações de apadrinhamentos e interesses outros que não o do real compromisso com a função social da mídia”, diz o já citado manifesto da FENAJ.


Campanha pelo diploma na Bahia

Aqui em Salvador, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia – SINJORBA está a organizar um Ato Político da Campanha em Defesa do Diploma de Jornalista, da Regulamentação Profissional e à Obrigatoriedade de Formação Superior para o Exercício da Profissão.

O ato político acontecerá hoje, as 18h30 no Auditório da OAB-Bahia,Fórum Teixeira de Freitas, Piedade.

A motivação do ato

O Supremo Tribunal Federal (STF) está prestes a julgar o Recurso Extraordinário (RE) 511961 que, se aprovado, vai desregulamentar a profissão de jornalista, porque elimina um dos seus pilares: a obrigatoriedade do diploma em Curso Superior de Jornalismo para o seu exercício.