O Consumo da Informação e as Novas Tecnologias,

foi o tema do Seminário realizado pelo Centro de Excelência da Informação (CEI), do Grupo A TARDE em parceria com as Faculdades Jorge Amado (FJA). O Seminário contou com a presença dos professores Alex Primo (UFRGS), Antonio Cabral (FGV) e Marcos Palacios (Facom-UFBA).

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Da esquerda para direita, Primo, Cabral e Palacios

Dessa vez pude chegar mais cedo, ficar até o final e o melhor: conversar pessoalmente com os pensadores acima. E esse conversar foi interessante, considerando que o blog do GJOL e do Alex Primo são minhas leituras diárias, essenciais para a compreensão da cibercultura, jornalismo digital, blogs e afins.

Então, pude encontrá-los ali, bater um papo e tal. Esse encontro pode servir como metáfora para o que Alex Primo chama de “conversas fluidas” na blogosfera, que podem acontecer:

– intra-blog (comentários);

– inter-blog (link para outros blogs ou post como resposta/referência a uma publicação anterior);

– extra-blog (o exemplo citado)

A conversa teve um enfoque maior na palestra de Primo, intitulada “Blogs, redes sociais, memes, marketing viral e credibilidade”.

* Credibilidade dos blogs/blogosfera

Retomou a campanha kamikase do Estadão contra a blogosfera, pontuando o equívoco conceitual do jornal ao comparar macacos com blogueiros. A reação da blogosfera também foi evidenciada, bem como o seu resultado: um evento organizado pelo Estadão com a presença de blogueiros e pesquisadores para minimizar/esclarecer a campanha.

O que achei mais interessante dessa parte foi ao Primo dizer que precisamos abandonar o “óculos da modernidade” para analisar dinâmicas pós-modernas. E como isso se manifesta nos blogs?

*O que são blogs?

Aos “óculos da modernidade” blogs são:

– sistema facilitado de publicação;

– diário íntimo;

– jornalismo.

A proposta dele é que existem três sentidos para os blogs:

1- Blog como programa – WordPress, LiveJournal, Blogspot..

2- Blog como espaço – Achei o seu blog no google. Publiquei no meu blog.

3- Blog como texto – esse post, por exemplo.

Esses sentidos não são estanques. O blog enquanto programa não tem apenas a finalidade de publicar texto, pode ser usado para ganhar $$$, para as empresas manterem o diálogo com seus clientes. O blog como espaço potencializa as relações sociais e as conversações que acontecem:

– conversa com os outros e com o self;

– você escreve enquanto pensa (acho que falarei das memes e marketing viral a seguir)

Primo falou de algumas memes e alguns casos de marketing viral. Porém, problematizou essas práticas/dinâmicas.

“a comunicação humana não tem características apenas de transmitir informação, o sujeito adapta, acrescenta, reconfigura e passa para frente um novo produto/fala”, disse Alex Primo em sua crítica de que a transmissão viral é um processo aditivo.

<<Você precisará ler esse post aqui para entender>>

Antonio Cabral (especialista em direito autoral)

Fora uma apresentação recheada de dados e reflexões. Não teve um foco específico, como ele mesmo disse a sua palestra seria “ampla sem focar em determinado aspecto”, portanto compartilho alguns deles:

– a indústria cultural não adaptou-se as necessidades dos usuários, principalmente no que tange o acesso ao conhecimento (potencializado pela internet) que a indústria continua na tentativa de restringir o acesso livre ou sob outra lógica de consumo à música, livro, vídeos….quando não, pune os “infratores” das leis obsoletas.

– Cabral sustentou que a sociedade não enxerga como um “crime” fazer um download na internet de uma música ou do filme Tropa de Elite.

– Apresentou alguns dados interessantes como:

> 85% dos fonogramas pertencem à Sony/BMG

> Ivete Sangalo ganha apenas 8% do valor da venda dos seus cd’s/dvd’s, isso porque é uma artista de “peso”. Em contraponto a esse modelo de negócio, Cabral destacou o tecnobrega do Pará (Calypso), onde os próprios artistas produzem o seu material e entrega ao mercado informal “camelô”, que funcionam como divulgadores do trabalho (já economizam o jabá nas rádios) para que eles (os artistas) possam ganhar dinheiro com show.

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E haja papel e caneta para anotar os dados

> 150 milhões de obras já foram registradas com o Creative Commons. Uma boa alternativa jurídica, segundo ele para facilitar o acesso ao conhecimento.

> No Rio de Janeiro, 97% das salas de exibição de filmes pertencem a “rolyudi”.

> O direito controla a realidade, porém esse controle é materializado nas leis. O problema é que para elaborar uma lei é preciso

1. De um fato;

2. O valor (positivo ou negativo) que a sociedade irá atribuir a esse fato;

3. Cria-se uma norma.

Logo, o Direito estará sempre atrasado no que tange as necessidades sociais.

> Na Alemanha, após 2 anos sem a edição de um livro, ele pode ser copiado integralmente.

> O marco regulatório da tevê digital subtraiu as potencialidades da interação. O DRM, por exemplo impedirá que o usuário faça cópias da programação (você poderá gravar no aparelho, mas não poderá transpor para outro suporte, como gravar em um DVD). Para Cabral é um retrocesso, além disso os empresários da comunicação, com ajuda do Ministro das Comunicações, Hélio Costa, conseguiram aumentar o tamanho da”banda” o que resultará em menos novos canais.

Marcos Palacios

Respondeu ao questionamento: o que está acontecendo com o jornalismo diante das novas tecnologias? Ou qual é o lugar dos jornalistas?

Palacios explicou que a liberação do pólo emissor gerou uma plurivocalidade, que pode ser conceituada como “efeito conversacional”. Os limites entre ser emissor e receptor é bastante frágil, agora o sujeito pode ser emissor e receptor simultaneamente.

A esfera pública é ampliada, uma vez que surgem novas vozes e nos espaços para o debate. Palacios acredita que este fenômeno cria novas oportunidades para o jornalista se “encaixar” no mercado.

O desafio para os profissionais de comunicação seria o de:

“selecionar e organizar as informações no que tange a sua hierarquia e o contexto”

Palacios argumenta que existe um excesso de informação e que o jornalista, devido a sua formação e o seu papel histórico precisa repensar os seus habitus e práticas. Não haverá futuro para profissional que entenda e goste de apenas um suporte (impresso, rádio, tevê). É preciso ser jornalista e produzir conteúdo para diversas mídias, simultaneamente.

“o jornalista é um agente social e cria uma forma específica de informação organizada e portanto, uma forma de conhecimento”.

Ironizando os publicitários, administradores, gestores que criam as fórmulas dos 4 elementos para explicar determinado aspecto, Palacios propõe que o jornalismo precisa ser calcado nos 4Cs:

1. Convergência

– reorganização do modelo de negócio;

– reorganização da rotina de trabalho;

– redefinição das competências profissionais

– diluição das fronteiras profissionais.

2. Contexto

– elaborar produtos específicos para determinada mídia e público.

– além de claro, contextualizar o fato…

3. Comunidade

– evoluir de uma comunidade de leitores (passivos) para uma comunidade de co-autores/ comunidade conversacional.

4. Co-envolvimento

– como exemplo o beatblogging.org que discute a pauta com a comunidade seja por proximidade geográfica/conhecimento que pode sugerir ângulos, fontes, desdobramentos sobre a pauta proposta.

Uma resposta para “O Consumo da Informação e as Novas Tecnologias,

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